Geraldo Sarno

Publicado originalmente em fevereiro de 2011

Os dois últimos longas-metragens de Geraldo Sarno ainda não encontraram o caminho da exibição. Tudo Isso Parece um Sonho, prêmio de melhor direção no Festival de Brasília de 2008, é um ensaio documental sobre como fazer um filme sobre um general brasileiro (nordestino) que participou de lutas de libertação na América Latina. Já O Último Romance de Balzac, prêmio especial do júri em Gramado 2010, é uma investigação sobre criação literária e psicografia.

Os mecanismos da criação, seja em cinema ou na literatura, ocupam o centro do interesse do baiano Sarno. Pensador longe ou perto da câmera, ele foi um dos fundadores da revista Cinemais e parece estar de novo caindo nas graças dos jovens estudantes e praticantes de cinema. O Último Romance de Balzac foi uma das atrações da última Mostra de Cinema de Tiradentes.

Historicamente, Sarno é um gigante do cinema brasileiro. A partir do clássico Viramundo, ele se tornou um dos principais documentaristas críticos da cultura popular no ciclo Thomaz Farkas. Prosseguiu com filmes penetrantes sobre religiosidade e política, como Iaô, A Terra Queima e Deus é um Fogo. Entre seus trabalhos de ficção, destaca-se Coronel Delmiro Gouveia (1977).

Dono de vasta cultura cinematográfica, literária e filosófica, estudou com paixão as relações entre o neorrealismo italiano, o cinema latino-americano e o Cinema Novo brasileiro. É autor de dois livros: Glauber Rocha e o Cinema Latino-americano (CIEC/Riofilme, 1995) e Cadernos do Sertão (NAU, Bahia, 2006).   

A seguir, os filmes que ele considera seus principais “faróis” no horizonte do cinema:

Aruanda, de Linduarte Noronha

Um cine-poema. Épico. Da reconstituição ficcional ao registro documental, da história mítica de Zé Bento e sua família aos planos documentais da constituição de Talhado e do trabalho das mulheres na cerâmica, o filme passa da memória ao fato, do passado ao presente, do mito ao propriamente histórico, da ficção ao propriamente documental.

Mar de Rosas, de Ana Carolina

Um dos mais explosivos e criativos filmes da cinematografia brasileira. Não perde atualidade, parece realizado nos dias de hoje.

Outubro, de Sergei Eisenstein

Um exercício exemplar e não superado de montagem cinematográfica inteligente; composição da expressão a partir da imagem visual, tendo a montagem como princípio criador e criando uma nova poética no cinema.

O Homem com a Câmera, de Dziga Vertov

O mais inteligente filme documentário de todos os tempos; poética e vida se combinam, teoria e realização, novas técnicas e um novo olhar para nos dar a imagem de um novo mundo em  gestação.

Acossado, de Jean-Luc Godard

O filme-ruptura que dá início à aventura mais extraordinária e trágica de um cineasta em busca de uma renovação da linguagem do cinema.

Rocco e seus Irmãos, de Luchino Visconti

O cinema de Visconti, como nenhum outro, reflete profundamente sobre o humano e sua circunstância social. Rocco é um filme exemplar nesse sentido.

Cidadão Kane, de Orson Welles

Memória e história ocupam o núcleo mesmo de uma nova forma de narrar. Um filme que funda uma nova era na história do cinema.