João Batista de Andrade

Ultimamente, nos habituamos a ver João Batista de Andrade com uma pequena câmera digital na palma da mão, miniaturizado e quase auto-suficiente. Assim ele fez os docs Vlado, O Caso Mateucci e Vida de Artista, além do fic Veias e Vinhos. O digital, de alguma maneira, levou-o de volta a condições semelhantes às do início de sua carreira, nos anos 1960, quando trabalhava com grêmios estudantis, no cinema marginal paulista e em experiências memoráveis de TV como o programa Hora da Notícia.

Entre um momento e outro, João Batista dirigiu clássicos da estirpe de Greve!, Migrantes, Liberdade de Imprensa, O Caso Norte, Wilsinho Galiléia e O Homem que Virou Suco. Lidou com produções ambiciosas como O País dos Tenentes e com adaptações literárias como Doramundo e O Tronco. Mas nunca se afastou por muito tempo da linguagem documental. Seu livro O Povo Fala (SENAC, 2002), assim como sua biografia escrita em conjunto com Maria do Rosário Caetano para a Coleção Aplauso, são leituras fundamentais para quem estuda o doc brasileiro. Conheça o site do cineasta.

Em parte do governo Alckmin, João Batista ocupou a Secretaria de Estado da Cultura de SP. Depois disso, retomou a direção do FICA – Festival Internacional do Cinema Ambiental, em Goiás, e começou a levantar produção para um novo longa fic e uma série de docs. Além disso, está empenhado na recuperação e disponibilização de seus filmes em DVD. O Homem que Virou Suco saiu na frente, em restauração patrocinada pela Petrobras e conduzida pelo Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro. Liberdade de Imprensa (apreendido pelo Exército no Congresso de Ibiúna) está sendo restaurado pela Cinemateca Brasileira e poderá ser relançado em agosto, junto com um livro sobre o filme.

Abaixo, os filmes-faróis de João Batista de Andrade e seus comentários concisos, mas espessos e quase concretistas:

1- O Homem de Aran (Flaherty): o cinema é poesia e não precisa, obrigatoriamente, de atores profissionais para isso. A descoberta do documentário.

2- Night Mail (Basil Wright/Alberto Cavalcanti): o cinema é uma construção poética, o domínio sobre a imagem e o som (que juntamos e que nem sempre nasceram um para o outro).

3- Tire Dié (Fernando Birri): o cinema é poesia e o social, a matéria-prima da poesia. A descoberta de que a América Latina é cinematográfica. O cinema não captura, é capturado por nossa realidade.

4- O Bandido Giuliano (Francesco Rosi): um filme é um filme, não há limites claros entre a ficção e o documentário. Há, sim, poesia e espírito crítico, domínio da linguagem.

5- Outubro (Eisenstein): o cinema é testemunho da História, mas se afirma como cinema.