Publicado originalmente em março de 2011
São Paulo já está vendo a segunda direção teatral de Laís Bodanzky. Menecma foi escrita pelo roteirista de cinema Bráulio Mantovani e seu personagem central está editando um documentário. Ou seja, embora classifique como “muito diferente do meu cinema”, o universo dos filmes não está de todo ausente desse “intervalo” da carreira da cineasta.
Em sua edição nº 51, de junho do ano passado, a revista Filme Cultura publicou os Faróis de Laís e algumas ideias suas sobre a própria trajetória. Por exemplo:
“Quando assisti ao documentário Apocalipse de um Cineasta / Hearts of Darkness: a Filmmaker’s Apocalypse (1991), vi no experiente Coppola a crise da criação e, mesmo ainda amadora na profissão, eu me identifiquei profundamente com a dor dele e pensei com meus botões ‘será que eu vou aguentar esta vida?’. E não deu outra, no meu terceiro longa (As Melhores Coisas do Mundo) a dor da criação é a mesma”.
Laís tem transitado com segurança entre a ficção, o documentário e os projetos de difusão cinematográfica. Sua competência na construção de personagens é notória no meio, com os exemplos se multiplicando desde o impressionante solo do jovem Neto (Rodrigo Santoro) em Bicho de Sete Cabeças ao painel de gente madura no filme-baile Chega de Saudade e ao retrato penetrante da pós-adolescência em As Melhores Coisas do Mundo. Ela arrisca uma explicação:
“Acho que isso tem a ver com o fato de eu me interessar mais pelas evoluções emocionais das personagens, me ocupar mais com as tramas internas do que com as externas. E fazer das tramas externas um jogo de espelhos e um catalisador das tramas internas”.
Laís costuma dizer que aprende a fazer filmes exibindo filmes. Seu antigo projeto Cine Mambembe, tocado com o marido e roteirista Luiz Bolognesi, evoluiu para o Cine Tela Brasil, que leva o cinema a populações sem tela, promove oficinas e tem um portal voltado para a educação audiovisual. O antigo e “romântico” Cine Mambembe gerou o primeiro doc de Laís e Luiz, Cine Mambembe – O Cinema Descobre o Brasil (1999), premiado como melhor doc no Festival de Havana. Mais tarde, eles voltariam ao cinema do real com A Guerra dos Paulistas (2002).
Em breve, a moça se muda de malas e bagagens para o desenvolvimento do seu novo projeto de longa-metragem, que tem o título provisório de Como Nossos Pais.
A seguir, os dez filmes-faróis de Laís Bodanzky:
Iracema, uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna
Por motivos óbvios de reconhecer um cinema inovador até hoje, mas por ser uma gostosa lembrança de infância das sessões lá de casa (N.R. Laís é filha de Jorge Bodanzky).
Guerra nas Estrelas, de George Lucas
Uma experiência sensorial cinematográfica que me pegou ainda menina, sonhando em ser princesa.
La Boum – No Tempo dos Namorados, de Claude Pinoteau
Um filme francês que me colocou adolescente na tela e me fez rir de mim mesma.
Meu Gato Sumiu / Chacun Cherche son Chat, de Cédric Klapisch
Outro francês que me despertou para o cinema de busca das personagens.
O Carteiro e o Poeta / Il Postino, de Michael Radford
O único filme que me fez pagar duas vezes o ingresso.
Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen
O melhor do melhor cineasta de todos os tempos.
A Hora da Estrela, de Suzana Amaral
Cinema de verdade, sobre a verdade, com muita ficção.
A Família, de Ettore Scola
Scola é o pai que acolhe todos os seus personagens, sem esquecer de nenhum e com o mesmo carinho por todos.
Trainspotting, de Danny Boyle
Para suportar a barra pesada, só sendo pop.
O Ilusionista, de Jos Stelling (N.R. Um filme de pantomima, sem diálogos)
Um dia vou fazer um filme assim.