Lírio Ferreira representa como poucos a geração de cineastas brasileiros que despontou nos anos 1990: funde o regional com o nacional, transita entre documentários e ficções, trabalha frequentemente em parcerias. Impulsionou a retomada, junto com Paulo Caldas, com o êxito de Baile Perfumado. Árido Movie ilustrou com garbo o filão-título, do qual foi um dos fundadores em Pernambuco. No documentário, fez sucesso com Cartola – Música para os Ouvidos e retratou Humberto Teixeira de maneira brilhante em O Homem que Engarrafava Nuvens. Experimentou o teatro com uma adaptação de Eu te Amo, em parceria com Rosane Svartman.Recentemente, lançou Sangue Azul e sofreu o duro episódio da perda de sua filha, a jovem escritora Júlia Ferreira, aos 21 anos.
Há cinco anos Lírio apontou e comentou seus filmes-faróis para a revista Filme Cultura nº 53. Ei-los:
Cidadão Kane, de Orson Welles
Um divisor de águas na minha vida. Todos os filmes que eu fiz, de uma forma ou de outra, pagam tributo a este filme e a Orson Welles. Sem ele, eu poderia ter seguido a carreira de jogador de futebol ou de dono de um boteco na Praia dos Carneiros.
Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha
Assisti a este filme num momento muito especial da minha vida. Tinha decidido fazer cinema, mas não sabia que rumo tomar. Depois da sessão no Cineteatro do Parque, em Recife, uma certeza apossou-se de mim: dali em diante a dúvida iria nortear o cinema que eu iria fazer.
O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla
Um dos melhores filmes já feitos em todos os tempos. Radicalizou a contemporaneidade do cinema brasileiro. Me ensinou os princípios da montagem.
Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick
Saí do cinema com dez quilos nas costas. Só consegui balbuciar alguma palavra duas horas depois de encerrada a sessão.
Iracema, uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna
Será ficção ou documentário? Não me importa.
Crepúsculo dos Deuses / Sunset Boulevard, de Billy Wilder
Um dos melhores inícios de filme da história do cinema mundial, ao lado de A Marca da Maldade / Touch of Evil.
Amarcord, de Federico Fellini
As cores deste filme não saem da minha cabeça. A cena do louco em cima da árvore implorando por uma donna é de uma beleza singular.
Acossado / À Bout de Souffle, de Jean-Luc Godard
Neste filme, Jean-Paul Belmondo personificou o maior herói do cinema mundial.
Solaris, de Andrei Tarkovski
Se Sunset Boulevard é um dos melhores inícios de filme da história do cinema, este certamente possui o melhor final. A cena do personagem voltando para casa e se abraçando ao pai na porta de casa, cercado por várias outras ilhas, é a cena mais cinematográfica que eu conheço.
O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski
Aquela canção de ninar sobreposta ao travelling pelos telhados do Edifício Dakota me assombra até hoje.