Malu De Martino

Publicado originalmente em novembro de 2011

Como Esquecer, um bonito filme sobre perda e superação, transformou-se em cult da diversidade sexual e mantém um blog ativo com mais de 100 mil acessos. Teve ótima repercussão também no exterior e chamou uma atenção inédita para o nome da sua diretora, Malu De Martino. Mas a trajetória de Malu, iniciada em 1983 com um filme de conclusão de curso em Nova York, tem matizes muito variados. Seu longa anterior, Mulheres do Brasil, reunia histórias sobre a condição feminina em diversos estados brasileiros. Ela já realizou documentários para TV e muitos vídeos sobre artes plásticas.

Quem pesquisa sobre a Geração 80, por exemplo, não pode deixar de passar pelo seu vídeo Tela s/ Tinta (1986), que recenseava o movimento, foi exibido na 18ª Bienal e tornou-se referência. Naquela década, ela documentava regularmente as exposições do MAM, trabalho que a conduziu ao média-metragem Ismael & Adalgisa, um mix de doc e fic sobre o triângulo afetivo-intelectual entre Ismael Nery, Adalgisa Nery e Murilo Mendes.

A arte do desenho estará de volta no próximo filme de Malu, um doc provavelmente muito lírico sobre a paixão da ilustradora botânica Margaret Mee pela flora amazônica. É o que se deduz do teaser abaixo, contendo imagens já colhidas na Amazônia. Para concluir Margaret Mee e a Flor da Lua, Malu ainda vai filmar no Rio de Janeiro e na Inglaterra. Margaret será apresentada como artista e como pioneira de um pensamento ecológico nos anos 1950.

A seguir, os filmes escolhidos por Malu De Martino como seus faróis no cinema. Entre clássicos e contemporâneos, nota-se seu gosto pelas junções do cinema com a literatura e as artes plásticas:   

Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder

Me impressiona muito a cena de Gloria Swanson descendo a escada (nunca esqueci). Acho cruel a loucura da estrela decadente e bastante curiosa a narração feita por um morto.

O Gabinete do Dr Caligari, de Robert Wiene

Tenho muito interesse no cinema como representação plástica. O cinema expressionista é para mim a síntese dessa ideia. De todos os que adoro, o Gabinete… é o primeiro que vem à memória.

Festim Diabólico (The Rope), de Alfred Hitchcock

Sou viciada em Hitchcock , e The Rope, da maneira que foi filmado, faz dele um exemplo de que o enredo transcende a pirotecnia cinematográfica, muitas vezes traduzida em ação. Fico presa na tela sempre que assisto.

Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos

Foi o primeiro filme do Nelson a que assisti e fiquei muito impressionada com o fato de a ideia ser tão eficaz ao ser passada com tão poucas palavras (diálogos). Acho que foi aí que comecei a ver a importância da imagem. Foi também a primeira vez que li o livro e vi o filme, o que me fez descobrir o casamento perfeito: literatura e cinema.

Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade

Não tenho certeza mas acho que foi o primeiro filme brasileiro que vi. Ele me fez ver o Brasil de outra forma. Apesar de não ser muito fã de comédias, tenho grande admiração pelo humor dele.

Amor Bandido, de Bruno Barreto

Gosto do filme principalmente pela maneira de mostrar Copacabana. Me impactou  muito a atuação do Paulo Gracindo. Acho um filme “sujo” no bom sentido, e o casamento dessa estética com o submundo me pareceu muito adequada.

Solaris, de Andrei Tarkovsky

Adoro Tarkovsky, e Solaris é o meu preferido. Sempre volto a assistir. Gosto muito da maneira com que ele trabalha a perda. Angustiante e belo.

A Mulher do Lado, de François Truffaut

Para mim o melhor filme de Truffaut. Misto de drama e tensão crescente como poucas vezes vi no cinema. A direção de atores chega à perfeição quando Fanny Ardant  surta sob o olhar de Gérard Depardieu.

Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-Wai

A fotografia e a trilha sonora me encantam. A direção de arte over e kitsch, também. Tudo isso sob um ponto de vista oriental com sentimentos nada à flor da pele. Uma ótima combinação para mostrar como os sentimentos mais profundos podem ser trabalhados de formas tão diferentes quando se trata de cinema.

O Escafandro e a Borboleta, de Julian Schnabel

Voltando à ideia do cinema como suporte das artes plásticas, esse filme é um dos meus preferidos. Das posições de câmera inusitadas à narração super bem aplicada, O Escafandro… é um quadro pintado por aquele que considero um artista plástico dos melhores e que não se contenta com uma ou outra tela, e sim com todas as possíveis.