Helena Ignez

Conversa com a cineasta no dia 30 de agosto

20180126- TIRADENTES/MG – 21ª MOSTRA TIRADENTES – Na foto Helena Ignez diretora de A MOÇA DO CALENDARIO – Foto Leo Lara/Universo Produção

Atriz e cineasta, Helena Ignez é um dos principais rostos do cinema brasileiro, desde o Cinema Novo ao Cinema Marginal até a sua transformação nos anos 2000 como realizadora, ela perpassou a todas as mudanças estéticas e formais permanecendo autoral e de grande talento atrás e a frente das câmeras. O cinema brasileiro é atravessado e também marcado por sua forte presença.

O início de carreira acontece no teatro, em Salvador, onde conhece e se casa com o cineasta Glauber Rocha. É exatamente através de Rocha que acontece sua estreia cinematográfica no curta-metragem Pátio (1959), uma obra experimental influenciada pelo concretismo em que um casal interage como num tabuleiro de xadrez. Dois anos depois atua em A Grande Feira, de Roberto Pires, e passa a figurar em inúmeras produções autorais do período, como o sucesso comercial Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias, e O Padre e a Moça (1966), de Joaquim Pedro de Andrade.

O segundo momento em sua trajetória ocorre por intermédio de seu encontro com duas figuras seminais do cinema udigrudi brasileiro: Julio Bressane e Rogério Sganzerla. Com este se casa e forma uma das maiores parcerias dentro e fora das telas, que rende obras-primas, como O Bandido da Luz Vermelha (1968) e A Mulher de Todos (1969). Juntos fundam a produtora Belair, um verdadeiro divisor de águas na produção autoral no país: filmes de baixo orçamento, rodados de maneira rápida e que eram arrojados tanto em forma quanto conteúdo quebrando, definitivamente, paradigmas.

Já nos anos 2000, Ignez abraça a realização cinematográfica, mas nunca deixa de lado a atuação, trabalhando tanto em produções próprias quanto em obras dirigidas por outros autores, entre elas Antes do Fim (2017), de Cristiano Burlan, e Helena de Guaratiba (2023), de Karen Black. Em 2005, nasce seu primeiro curta, A Miss e o Dinossauro, um filme em que resgata imagens preciosas da Belair não apenas como um simples registro, mas com uma tentativa de refletir sobre o passado e o presente do cinema. O primeiro longa chega em 2007 com Canção de Baal, baseado numa peça de Bertold Brecht, em que une lirismo poético com anarquias estéticas, sem amarras formais. A voz da atriz e a expressão de seu corpo tomam forma e ganham o reforço do olhar e o discurso da realizadora. Agora também luz e guia, como um farol, para jovens autoras do cinema brasileiro.

Filmografia selecionada

A Alegria é a Prova dos Nove (2023)
A Moça do Calendário (2017)
Ralé (2015)
Feio, eu? (2013)
Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha (2010)
Canção de Baal (2007)

//Filmes Faróis

“Para uma feminista não é fácil escolher os melhores de uma arte que começou predominantemente masculina.”

Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot, 1959), de Billy Wilder

Além do humor perspicaz e imensa capacidade artesanal do diretor e do filme, apresenta Marilyn Monroe, grande ícone da atuação cinematográfica, gênia trágica, a quem dedico todo o amor como inspiração inaugural do meu trabalho de atriz.

Acossado (À Bout de Souffle, 1960), de Jean-Luc Godard

Godard muda a linguagem cinematográfica com um filme de grande personalidade e inquietação. Godard transforma-se em God-art, o Deus da arte cinematográfica moderna, trazendo o experimental como linguagem transformadora. 

Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha

É um filme genial que chegou chegando com uma energia telúrica, única, louca, musical e muito cinematográfica. 

O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla

Como Godard, Rogério é um criador e transformador da linguagem cinematográfica, não só brasileira, como mundial. Além disso, esse filme sofisticado e popular levou na sua estreia três milhões de espectadores ao cinema.

Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho

Seguindo a tradição do bom cinema brasileiro, Bacurau é sofisticado e popular.