Publicado originalmente em agosto de 2010
Já está em cartaz no CCBB-SP a mostra Homenagem a Mário Carneiro. A partir de 15 de maio ela aporta no CCBB-Rio. Já era tempo de se celebrar a obra desse mestre da imagem – pintor, gravurista, diretor de fotografia, roteirista, montador e cineasta – que chega aos 77 anos lutando bravamente (e vencendo) contra o câncer.
A mostra, organizada por Mario Azen, exibe mais de 40 filmes. Alguns em cópias novas, como o clássico doc Arraial do Cabo, co-dirigido com Paulo Cezar Saraceni e que ajudou a fundar o Cinema Novo; e o pouco visto Landi, o Arquiteto Régio do Grão-Pará. Seu curta doc Nave de São Bento, dado como perdido, foi encontrado e integra a programação.
Mário Carneiro tem se dedicado a documentar a obra de colegas artistas plásticos como Anna Bella Geiger, Cícero Dias, Carlos Zílio, Iberê Camargo, Lígia Clark e Milton Dacosta. Todos esses trabalhos estão na mostra, assim como os dois filmes mais recentes que ele fotografou, ainda inéditos nos cinemas: o doc 500 Almas, de Joel Pizzini – a ser lançado em junho –, e o fic Carlos Oswald – O Poeta da Luz, de Régis Faria.
Ao telefone, pedi-lhe que preparasse calmamente a sua lista de filmes-faróis, mas ele preferiu responder no ato, sem aparente dificuldade para escolher seis (e não cinco) marcos de sua formação no cinema. São eles:
Viagem à Lua, de Méliès. “As audácias de Méliès desde sempre me pareceram um manifesto libertário e um estímulo à inventividade”.
Tabu, de Robert Flaherty e F.W.Murnau. “Um falso documentário que não sei por quê me agradou tanto. Acho que aquele tubarão falsificado, manipulado, me indicou que era possível errar em paz no cinema. Eu, que sempre tive uma tendência à comédia, gostei de ver o erro em meio ao óbvio bem comportado”.
Limite, de Mário Peixoto. “Recém-chegado da França, vi que era possível uma fotografia brasileira (Edgar Brasil) que nada ficava a dever à avant-garde europeia da época”.
A Paixão de Joana D’Arc, de Carl T. Dreyer. “Falconetti ficava o tempo todo sentada, mas naquele filme parece que o Cinema se levantou e ficou de pé”.
A Idade do Ouro e Os Esquecidos, de Luís Buñuel. “O primeiro, pelo surrealismo muito aparente, em tom de brincadeira. O segundo, pelo radicalismo carnal e a verdade crua, hiperrealista. Buñuel foi o cineasta que mais me marcou. Me deixava arrepiado”.
Os Mestres Loucos, de Jean Rouch. “A força impressionante do filme me causou um grande impacto na primeira vez”.