Rosane Svartman

Publicado originalmente em novembro de 2011

Ela não se sente incomodada quando a rotulam como “cineasta de jovens” ou “cineasta carioca”. Responsável por filmes perfeitamente enquadrados nessa dupla moldura – Como Ser Solteiro e o recente Desenrola – e por roteiros próximos disso, como o da minissérie Confissões de Adolescente, Rosane Svartman até se sente lisonjeada quando esses rótulos funcionam como um adjetivo. “Mas não quando tentam nos reduzir”, ressalva.

O Rio de Janeiro, aliás, ficou bem distante do último trabalho da diretora. Na Amazônia para filmar Tainá 3 – A Origem, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2012, ela se viu diante de desafios inéditos. Da grande escala da produção à necessidade de lidar com crianças que precisavam parecer naturais no meio da floresta, em balões e sob climas ultra-tropicais, tudo foi diferente. “Agora posso encarar qualquer coisa”, saiu pensando.

Tainá 3 foi também a primeira vez que Rosane se viu sem sua parceira-quase-irmã Clélia Bessa, sócia na Raccord e que produziu com ela todos os seus filmes, desde o primeiro curta, Moleque (1990). Desde então, ela já dirigiu três minisséries documentais para a TV, entre elas a muito elogiada Quando Éramos Virgens; e a comédia romântica adulta Mais uma Vez Amor. Escreveu três peças de teatro e, com Lírio Ferreira, codirigiu uma, Eu te Amo, baseada no filme de Arnaldo Jabor. Essa última experiência lhe proporcionou uma nova perspectiva no trabalho com os atores, que foi a imersão prolongada. A peça começa em janeiro sua temporada paulista.

Há pouco ela mergulhou no universo de Hugo Carvana – com quem fez o curta O Cabeça de Copacabana – para escrever a série Os Bons Malandros para a TV Globo, juntamente com o próprio Carvana, Paulo Halm e José Lavigne. Uma continuação de Desenrola, com as personagens entrando na idade adulta,também não é estranha a seus planos para o futuro próximo. Além de tudo isso, Rosane continua ligada ao Núcleo de Cinema do Nós do Morro, do qual foi uma das fundadoras e hoje é dirigido por Luciana Bezerra.                 

A lista de filmes-faróis de Rosane Svartman deixa transparecer sua relação bem pessoal com as lembranças do cinema. Aqui e ali, uma maneira travessa de driblar o limite de 10 filmes e acrescentar mais algumas luzes que ficam piscando em sua memória:  

A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen

É o meu Woody Allen predileto, mas é claro que também tem outros filmes dele incríveis. Mistura magia e humor de um jeito que para mim é emocionante, brincando com os conceitos de verdade, mentira, fantasia e realidade. Lendo o livro de entrevistas com ele, recentemente, percebi que na verdade a ideia de mergulhar em uma nova realidade também permeou contos do artista no início de sua carreira e, é claro, está também no excelente filme Meia Noite em Paris. E meu filme predileto da infância remota é O Mágico de Oz, não tem a ver? (não coube na lista).

Beijos Proibidos, de François Truffaut

(mas pode ser outro do personagem Antoine Doinel, Amor em Fuga ou outro clássico do autor, como Jules e Jim). Sou de uma geração que não viveu a eletricidade dos cineclubes, que exibiam e discutiam filmes de arte, e que também, infelizmente, não aproveitou os relançamentos de clássicos em VHS e posteriormente em DVD, etc. Quando entrei para a Universidade de Cinema, na UFF, aproveitei para me colocar a par,  junto com as excelentes aulas de História do Cinema com o professor João Luiz Vieira, dos grandes movimentos cinematográficos e seus filmes mais representativos. Encarei a tarefa como um desafio que envolveria mais um esforço pelo conhecimento do que exatamente prazer. Conhecer a Nouvelle Vague e o Truffaut foi uma grata surpresa. Os filmes são uma delícia, engraçados e inteligentes.

Bye, Bye Brasil, de Carlos Diegues

É um filme que me fez pensar o Brasil, as transformações culturais pelas quais, aliás, ainda estamos passando, de uma forma lúdica. Para mim assistir Bye, Bye Brasil ainda é embarcar em uma viagem numa espécie de bolha fugidia, certamente nostálgica, do entretenimento artesanal.

Menino do Rio, de Antônio Calmon

Lembro exatamente do dia em que entrei com carteirinha falsificada no Cine Jóia para ver o filme do qual todo mundo falava. Foi o primeiro filme brasileiro da minha adolescência e me fez rir, chorar, tudo junto. Lembro de muitas cenas em detalhes. Foi uma experiência tão especial que nem sei se tenho coragem de ver de novo. 

Peter Pan, de P.J. Hogan

É um filme razoavelmente recente, que vi com meus filhos pequenos. Acho que é um dos poucos filmes dirigidos ao público infantil em que realmente embarquei com eles, torcendo, tudo isso (se for ver em DVD – não perca o final alternativo, mas aviso, é de chorar). É um filme que me deu vontade de dirigir para esse público também, já que antes do Tainá 3 eu ainda não tinha feito filmes para crianças, que meus filhos poderiam assistir.

Retratos da Vida (Les Uns et les Autres), de Claude Lelouch

É um filme que vi várias vezes numa certa época da vida. Minha família é descendente de imigrantes judeus, vindos da Europa, então é um filme que me faz voltar no tempo para tentar entender um pouco mais do que foi a guerra, como ela modificou a vida das pessoas.

Guerra nas Estrelas, de George Lucas

Desde criança gostei de ler livros que falam de outras possibilidades de existência, universos alternativos, paralelos, etc. Comecei a ver a série ainda bem garota e para mim talvez esse seja o maior exemplo do que o cinema hegemônico, clássico narrativo, pode suscitar no espectador, ou pelo menos em mim. Fiquei hipnotizada com robôs, espadas brilhantes, realmente uma viagem sensorial. Como andar de montanha russa.

La Boum – No Tempo dos Namorados, de Claude Pinoteau

A Juliana Lins, que escreveu comigo o Desenrola, também tem esse filme entre os seus prediletos e, para falar a verdade, acho que não lembro de mais ninguém que tenha sequer visto o filme além da gente. É mais um filme que marcou a minha adolescência. Me identifiquei muito com a personagem da Sophie Marceau, me deu vontade de contar minhas próprias histórias. 

Se Meu Apartamento Falasse, de Billy Wilder

Mas poderiam ser tantos outros! Mais um artista que emociona muito com humor. O diálogo da Shirley MacLaine com seu amante ao telefone é absolutamente perfeito. Incrível, mas ele conseguiu realizar uma cena de telefone comovente.

A Primeira Noite de um Homem, de Mike Nichols

É um clássico das minhas aulas de cinema do Nós do Morro, até porque o storyboard está naquele livro Shot by Shot. É simplesmente um filme lindamente filmado, que mais uma vez mistura humor e emoção. Só para deixar claro: quase tirei esse filme da lista para colocar When Harry Met Sally, do Rob Reiner, no lugar. Claro que a direção não é genial como a do Nichols, mas o roteiro é muito bacana, popular, e adoro aquelas intervenções sob forma de depoimentos.

OK. Ficaram vários de fora, mas…