Mostra 2014

Dias atrás, alguém disse: “Que legal. Mais uma vez os Faróis iluminarão o cinema do Rio de Janeiro”. Eu confesso que fiquei muito gratificado, pois, tal qual um pai ao assistir seu filho fazer um gol da vitória na partida final do campeonato do colégio, ver o nosso Faróis do Cinema chegar ao seu terceiro ano é motivo de orgulho e regozijo. Afinal, de uma forma ou de outra, por aqui já estiveram os mais importantes cineastas do mundo com suas obras luminosas. Fellini, Glauber, Eisenstein, Nelson Pereira, Godard, Cacá, enfim, todos esses e muitos outros nos iluminaram com seus filmes, suas palavras e suas sabedorias. Cada um de nós, que tivemos o privilégio de assistir as obras ou de participar dos debates, enriqueceu um pouco mais, com certeza. Também dias atrás, trocando ideias com a editora Fernanda Teixeira sobre a vinheta de abertura, me veio à mente o fato de que um farol gira seu facho de luz varrendo os 360 graus ao seu redor. Então recordei um filme visto há muitos anos, que havia sido iluminado apenas pela luz intermitente de um farol. Perguntei à Fernanda se seria possível recriar esse efeito em computador em pequenos trechos de alguns filmes, e ela de pronto falou “Isso parece um curta do Eduardo Nunes”, justamente a obra que segundos antes havia me iluminado, que era o f ilme Terral. Eureca! Essa é a essência do Faróis do Cinema: investigar o como, quando e porquê alguns f ilmes se entranham nas mentes dos criadores de imagens e eventualmente, quando acionadas por algum mecanismo misterioso, ressurgem feito um clarão. Isto é o que tentaremos descobrir com nossos queridos cineastas convidados. Infelizmente, ao realizar a produção deste ano, não recebemos somente boas notícias. Um de nossos farolados partiu: Eduardo Coutinho, um dos mais importantes nomes do cinema brasileiro. Em 2010, juntamente com Wladimir Carvalho, ele nos brindou com sua presença em um debate mediado por Carlos Alberto Mattos, deliciando o público com um bate-papo divertido e antológico. Mas sua obra está eternamente acesa. Cabra Marcado Para Morrer, cujas filmagens foram interrompidas há exatos 50 anos, em 31 de março de 1964, dia do golpe que instituiu a ditadura militar no Brasil, foi o filme que escolhemos para abrir o 3º Faróis do Cinema e demonstrar nosso carinho ao mestre com uma singela homenagem. Queremos ainda expressar nosso enorme agradecimento ao crítico, jornalista e amigo Carlos Alberto Mattos, pois ele é o criador dos Faróis, lá no seu antigo DocBlog do Globo Online, que nos forneceu um estoque de entrevistas e informações para selecionar os diretores e os filmes a serem exibidos nesta edição. Ou seja, nós – Mariana Bezerra e eu – apenas reciclamos essa ideia genial para um ciclo de debates e mostra de filmes. Então, para finalizar, mais uma vez ousamos nos apropriar de um escrito do Carlinhos para o catálogo do 1º Faróis do Cinema: “O cinema é uma teia que nos enreda desde muito cedo. A condição de espectadores forja gostos, preferências e atitudes ao longo da nossa vida, muitas vezes sem que o percebamos. Se isso é verdade para qualquer pessoa, imagine para os cinéfilos de papel passado. Para aqueles que vêm a se tornar cineastas, a teia do cinema torna-se ainda mais enredante, pois ali está alguém que cria e consome numa dinâmica permanente.” Que todos sejam bem-vindos à nova edição do Faróis do Cinema!

Marcelo Laffitte
Curador e Produtor


Mostra 2011

Esta segunda edição da Mostra Faróis do Cinema dá prosseguimento a uma investigação sobre a formação do olhar dos cineastas brasileiros.

Na primeira edição, enfocamos documentaristas. Este ano, nosso elenco é formado por realizadores prioritariamente envolvidos com o cinema de ficção. Não queremos com isso delimitar fronteiras em territórios cada vez mais hibridizados, mas apenas ampliar o espectro da
nossa pesquisa.

Sabemos que não só com filmes molda-se o repertório de motivações para quem faz cinema. Ele é composto também por interações com outros campos artísticos, experiências biográficas e circunstâncias diversas que atuam sobre a criação de qualquer artista. Mesmo assim, queremos apostar na força da memória cinematográfica, seu caráter cultural, identitário e afetivo, como pistas das mais interessantes para compreendermos as escolhas dos nossos cineastas.

A consulta que encaminhamos aos diversos diretores é a mesma desde que a série surgiu no antigo DocBlog. Pedimos a cada um que aponte entre 5 e 10 filmes que consideram fundamentais na concepção da sua própria ideia de cinema. Não se trata de meras listas de melhores filmes, mas de obras cruciais na sua formação, remota ou recente. Pedimos filmes de qualquer época, duração, gênero ou procedência. Cada realizador, é claro, está livre para interpretar esse pedido a sua maneira.

As listas resultantes espelham uma imensa diversidade, com ênfases notáveis nos cinemas novos dos anos 1960/70 e em clássicos brasileiros e internacionais. Mas não só. Elas reservam também surpresas, sendo algumas bastante divertidas. Experimente lê-las pensando nas características e nas obras dos respectivos diretores.

A curadoria desta edição é assinada por Marcelo Laffitte, que idealizou o evento junto com Mariana Bezerra a partir das publicações nos meus blogs. A programação reúne cineastas de larga experiência e outros de carreira mais recente, mas igualmente dotados de personalidade autoral consolidada. Nos encontros em que eles estarão em duplas bigeracionais, queremos aprofundar essa observação sobre quem faz e quem inspira o cinema brasileiro.

Em matéria de filmes, a mostra mantém o mesmo perfil de combinar o clássico e o contemporâneo. Com esse passeio por títulos míticos do cinema mundial e do brasileiro, lado a lado com filmes contemporâneos que refletem aquelas influências em menor ou maior grau, procuramos ilustrar o espírito desse projeto.

O elenco deste ano reúne diferentes gerações de cineastas, a saber: Cacá Diegues, José Joffily, Luiz Carlos Lacerda, Malu De Martino, Marcelo Laffitte, Neville D’Almeida, Rosane Svartman e Vinicius Reis. De cada um deles será exibido um longa e alguns curtas-metragens. Do outro lado do espectro, entre os citados por eles em suas listas, teremos filmes de Antonio Carlos da Fontoura, Bruno Barreto, Federico Fellini, Jean Genet, Jean-Luc Godard, Lael Rodrigues, Leon Hirszman e Luís Buñuel.

A curadoria este ano é de Marcelo Laffitte, um dos idealizadores originais da mostra. Os “debatepapos” serão mediados pelo crítico Carlos Alberto Mattos, criador e editor dos Faróis.


Mostra 2010

Cartaz da mostra

Inspirada na série Faróis, publicada no extinto DocBlog do Globo Online, a mostra foi composta por filmes de grandes documentaristas brasileiros em conjunto com trabalhos de outros grandes cineastas (brasileiros e internacionais) que inspiraram suas carreiras, linguagens e olhares.

A seleção contemplou 37 filmes a partir das escolhas de 10 diretores participantes da série Faróis. São eles: Bebeto Abrantes, Eduardo Coutinho, Eryk Rocha, Jorge Bodanzky, Maurice Capovilla, Octavio Bezerra, Sandra Werneck, Silvio Da-Rin, Sylvio Back e Vladimir Carvalho.