Dias atrás, alguém disse: “Que legal. Mais uma vez os Faróis iluminarão o cinema do Rio de Janeiro”. Eu confesso que fiquei muito gratificado, pois, tal qual um pai ao assistir seu filho fazer um gol da vitória na partida final do campeonato do colégio, ver o nosso Faróis do Cinema chegar ao seu terceiro ano é motivo de orgulho e regozijo. Afinal, de uma forma ou de outra, por aqui já estiveram os mais importantes cineastas do mundo com suas obras luminosas. Fellini, Glauber, Eisenstein, Nelson Pereira, Godard, Cacá, enfim, todos esses e muitos outros nos iluminaram com seus filmes, suas palavras e suas sabedorias. Cada um de nós, que tivemos o privilégio de assistir as obras ou de participar dos debates, enriqueceu um pouco mais, com certeza. Também dias atrás, trocando ideias com a editora Fernanda Teixeira sobre a vinheta de abertura, me veio à mente o fato de que um farol gira seu facho de luz varrendo os 360 graus ao seu redor. Então recordei um filme visto há muitos anos, que havia sido iluminado apenas pela luz intermitente de um farol. Perguntei à Fernanda se seria possível recriar esse efeito em computador em pequenos trechos de alguns filmes, e ela de pronto falou “Isso parece um curta do Eduardo Nunes”, justamente a obra que segundos antes havia me iluminado, que era o f ilme Terral. Eureca! Essa é a essência do Faróis do Cinema: investigar o como, quando e porquê alguns f ilmes se entranham nas mentes dos criadores de imagens e eventualmente, quando acionadas por algum mecanismo misterioso, ressurgem feito um clarão. Isto é o que tentaremos descobrir com nossos queridos cineastas convidados. Infelizmente, ao realizar a produção deste ano, não recebemos somente boas notícias. Um de nossos farolados partiu: Eduardo Coutinho, um dos mais importantes nomes do cinema brasileiro. Em 2010, juntamente com Wladimir Carvalho, ele nos brindou com sua presença em um debate mediado por Carlos Alberto Mattos, deliciando o público com um bate-papo divertido e antológico. Mas sua obra está eternamente acesa. Cabra Marcado Para Morrer, cujas filmagens foram interrompidas há exatos 50 anos, em 31 de março de 1964, dia do golpe que instituiu a ditadura militar no Brasil, foi o filme que escolhemos para abrir o 3º Faróis do Cinema e demonstrar nosso carinho ao mestre com uma singela homenagem. Queremos ainda expressar nosso enorme agradecimento ao crítico, jornalista e amigo Carlos Alberto Mattos, pois ele é o criador dos Faróis, lá no seu antigo DocBlog do Globo Online, que nos forneceu um estoque de entrevistas e informações para selecionar os diretores e os filmes a serem exibidos nesta edição. Ou seja, nós – Mariana Bezerra e eu – apenas reciclamos essa ideia genial para um ciclo de debates e mostra de filmes. Então, para finalizar, mais uma vez ousamos nos apropriar de um escrito do Carlinhos para o catálogo do 1º Faróis do Cinema: “O cinema é uma teia que nos enreda desde muito cedo. A condição de espectadores forja gostos, preferências e atitudes ao longo da nossa vida, muitas vezes sem que o percebamos. Se isso é verdade para qualquer pessoa, imagine para os cinéfilos de papel passado. Para aqueles que vêm a se tornar cineastas, a teia do cinema torna-se ainda mais enredante, pois ali está alguém que cria e consome numa dinâmica permanente.” Que todos sejam bem-vindos à nova edição do Faróis do Cinema!
Marcelo Laffitte
Curador e Produtor